abril 22, 2009

Faz de conta que eu acredito


Vivemos em um País de faz-de-conta.
Isto pode ser comprovado nas ruas quando vemos, por exemplo, uma mulher correndo para pegar o ônibus. De salto alto, com seus passinhos miúdos que podem ser ultrapassados por um simples pedestre caminhando ao seu lado, mas que juntamente com suas mãos gesticulando ao motorista, servem para demonstrar que está se esforçando ao máximo para alcançar o veículo, antes que o mesmo parta rumo a novas paradas.
Sendo assim, ela “finge” que está correndo, na esperança de comover o referido motorista, para que o mesmo espere que entre no ônibus.
O faz-de-conta é algo institucionalizado. Um produto mundial, mas que pode ser considerado tipicamente brasileiro, pois aqui neste Brasil sabemos fazer de conta como se fosse de verdade.

É uma técnica que literalmente vem de berço.

Podemos verificar isto ao observarmos algumas crianças fazendo de conta que comem. Elas ficam remexendo com a colher em seus pratos, tentando enganar suas mães, fazendo-as acreditar que já abocanharam algumas colheradas de comida, para enfim retornarem ao doce lazer da televisão.

Outras, nas ruas, olham através das vidraças de restaurantes a comida farta colocada nas mesas e fazem de conta que pertencem aquele mundo, que também podem comer ali, na esperança de enganar seus estômagos famintos.

Procuramos iludir através do faz-de-conta até mesmo o coração, Como já dizia um pensamento destinado aos amores impossíveis: “Elas fingem que gostam e nós fingimos que não”, proferido por um sábio ao seu então discípulo, em um dos tantos textos da vida.

Na base do faz-de-conta nossa nação vai andando, um passinho para frente e outro para trás, com gente fazendo de conta que trabalha aos olhares de gerentes que fazem de conta que gerenciam.

De pacientes que tentam ganhar um atestado, fazendo de conta que estão doentes, forçando tosses e gemidos diante de médicos que fazem de conta que sabem o que estão examinando.

Somos um povo que faz de conta que é feliz para convencer os “gringos” a virem passear em nosso grandioso país. Dançando como loucos ao som do carnaval. Mostrando bocas onde faltam dentes, porém não faltam sorrisos.

Demonstrando que ainda conseguimos sobreviver mesmo em meio a uma violência verdadeira. Protegidos por uma segurança imaginária.

Esperando em filas reais por atendimentos em hospitais que parecem pesadelos de concreto, desses que somente deveriam existir em filmes de terror.

Torcemos para que nossas crianças consigam ir as escolas sem serem molestadas, atacadas por marginais, ou seduzidas pelo mundo das drogas. Fazendo de conta que tudo que acontece a nossa volta não é conosco, e que não vai nos atingir.
Escondendo nosso medo e desespero dentro de nosso próprio peito. Mas eles teimam em sair, sufocando nossas gargantas para que não possamos gritar de agonia diante da miséria que nos cerca.
É neste mundo de faz-de-conta que ouvimos políticos berrarem em microfones que tudo irá melhorar. Abraçando velhinhos e pegando no colo crianças, visitando hospitais para segurar a mão de doentes, fazendo de conta que se importam com eles. Jurando coisas que nunca conseguirão ou sequer tentarão cumprir. Pois almejam um poder egoísta, voltado apenas aos seus interesses mesquinhos.
Seguem em caravanas pedindo apoio, votos e confiança. Expondo seus dentes brancos para quem esteja disposto a fotografa-los ou filmá-los, garantindo-lhes assim o seu desejado ibope.
Sorridentes perante seu povo. Um sorriso que se mantêm após suas vitórias. Conquistadas com promessas falsas. Recheadas de mentiras verdadeiras.
www.abrasc.pop.com.br e www.recantodasletras.com.br/autores/abrasc)
Antonio Brás Constante
Overmundo

Fazer tchbum

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