Com mais de 30 anos de samba, o Fundo de Quintal troca de gravadora e lança o CD ‘Nossa Verdade’
Rio - Foi sob as bênçãos da tamarineira que fica numa quadra na rua Uranos, em Ramos, que Beth Carvalho, levada pelo jogador de futebol Alcir Portela, viu pela primeira vez os partideiros do bloco Cacique de Ramos. Era 1977 e a cantora, encantada com aquela maneira de tocar samba, convidou os rapazes para participarem de um disco dela, no ano seguinte. Os músicos logo virariam o grupo Fundo de Quintal, que estreou em disco em 1980. Mais de 30 anos depois, ainda com três integrantes da formação original — os irmãos Bira Presidente e Ubirany, e Sereno —, eles lançam o CD ‘Nossa Verdade’, estreia do grupo na gravadora Biscoito Fino, famosa pelo catálogo sofisticado.
“O samba deixou de ser só um pagodinho de subúrbio, a reunião passou a acontecer em lugares mais elegantes. Hoje, você vai num encontro na Tia Doca (em Madureira), no Cacique de Ramos ou no Barril 8000 (Barra) e todos têm a mesma intensidade, a casa cheia”, compara Ubirany. “Nós temos o maior orgulho de fazer parte do movimento que ajudou isso acontecer. O Partido Alto estava morrendo e nós o trouxemos de volta”, lembra ele. “O samba era discriminado e a gente o ajudou a voltar para as rádios”, diz Bira Presidente.
Longevidade
O CD é o primeiro com maioria de músicas novas desde 2006, quando lançaram ‘Pela Hora’. “Já era tempo de fazer um disco de inéditas, nosso público estava cobrando”, diz Ubirany. “Voltamos ao samba de Partido Alto, o samba exaltação, o romântico naquele nosso jeito, tem até um calangueado ali também”, enumera ele. Dona Ivone Lara é homenageada com a regravação de ‘Luz da Alvorada’, dela, Delcio Carvalho e Paulinho Carvalho. “Já gravamos muito Dona Ivone, ela faz parte da nossa história. É respeitada por todo sambista.”
Para os criadores do Fundo de Quintal, o segredo da longevidade do grupo é ter se mantido fiel ao estilo que o consagrou. “Já saíram muitos talentos e o grupo continua com o mesmo conceito”, afirma Bira. “Você escuta o nosso primeiro disco e vê que tem a ver com esse. Talvez não dê para atingir números astronômicos, mas permite que você tenha uma carreira linear. Já vi muito artista tentando seguir o modismo do momento. Quando tenta voltar, o público não aceita”, analisa Ubirany.
O segredo do sucesso numa árvore
Bira Presidente conta que, na famosa tamarineira do Cacique de Ramos, existe um preceito espiritual colocado por sua mãe, filha de santo da famosa Mãe Menininha do Gantois, que seria o segredo sucesso dos que têm a carreira ligada ao bloco, fundado há 50 por ele — que está no posto que lhe rendeu o apelido pelo mesmo tempo.
O bloco foi tombado como patrimônio cultural do País. Além disso, será o enredo da Mangueira em 2011. Eduardo Maruche prepara um filme sobre o tema. E, hoje, Bira recebe, na Assembleia Legislativa, a medalha Tiradentes em nome do Cacique.
Pelo Fundo de Quintal passaram Almir Guineto, Jorge Aragão, Arlindo Cruz e Sombrinha. Zeca Pagodinho e Dudu Nobre foram outros que surgiram na roda de samba do Cacique. “A Glória Maria foi a primeira princesa do Cacique”, lembra Bira