julho 30, 2008

A borboleta e o elefante

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Há muitos anos, quando participava de oficina sobre interação fisiopsíquica, foi-me consignado escolher um animal que me representasse ou, melhor dizendo, um animal com o qual eu pudesse identificar meu mais legítimo anseio, este último, traduzido como "vontade da alma". Sem titubear, optei de pronto pela borboleta, com a justificativa de que ela me sugeria leveza, liberdade e flexibilidade.


Leveza, por ser capaz de pousar com elegância, até mesmo numa delicada pétala ou folha; liberdade e flexibilidade, pelo fato de haver obtido junto à natureza licença permanente para adejar de flor em flor, através de bosques, pomares e jardins. Anseio é a vontade da alma. Anseio não é falso.

A alma precisa viver o que gosta em cada coisa! Naquela oportunidade, não me lembrei de mencionar o indicador beleza - uma precaução inconsciente - motivada talvez pelo fato de saber que nem todas as borboletas podem ser consideradas belas, ao menos no que diz respeito à opinião defendida pelo senso estético comum. Descobri que sentir-se leve, livre e solto, no espaço circunscrito desta existência, é o que ensejava o “meu bicho”. Eu necessitava me permitir resgatá-lo, uma vez que não estava disposta a suportar o alto custo de sua manutenção, no esconderijo secreto de minha mente racional.

Essa cobradora, algumas vezes, costuma ser cruel e avarenta, principalmente quando lhe permitimos nos fazer cobranças superiores às nossas dívidas, uma concessão arriscada, que sempre acaba nos levando ao desespero e este é, a meu ver, o maior inimigo da mente e do corpo saudáveis, pois lhes reserva culpas e somatizações.

Muito antes, porém, do fato terapêutico acima descrito, ainda na infância, tive a oportunidade de assistir a um filme cujo tema era o circo. Saí do cinema maravilhada com as proezas dos trapezistas, a alegria dos palhaços e também com o romantismo do casal herói, porém, mais do que todas essas atrações, a apresentação de um elefante generoso e inteligente marcou-me fundo, um registro importantíssimo, do qual me dei conta somente décadas depois.


A partir de determinado comando, o animal deitou-se sobre uma criança, que ainda poderia ser considerada pequena, tendo permanecido na posição decúbito ventral durante menos de minuto talvez, tempo que me pareceu demasiadamente longo e perigoso, até o momento em que, a um sinal do domador, ele se foi erguendo, pata à pata, tranqüila e delicadamente, cuidando para não tocar o objeto que tinha sob seu corpo e poder. Em seguida, a menina, vestida de maiô repleto de lantejoulas coloridas, levantou-se, fez reverência e os três - homem, elefante, criança - receberam muitos aplausos, tanto da platéia circense (nada mais que os figurantes), quanto dos demais espectadores daquela matinê dominical (eu e a geração infantil dos anos 50).

  • Cena gravada na fita magnética desta “memória de elefante”, que se gaba de ter sabido preservar as tomadas mais significativas da película essencial de sua vida, trechos que pouco a pouco se vão revelando, justamente numa fase bastante oportuna para reprises com novas falas e novos questionamentos...
    Para ser leve, necessito ser borboleta? É lógico que não. Posso ser elefante!

  • Para ser livre, posso ser elefante? Não, para ser livre, é preciso que seja borboleta!
  • Para ser flexível, quem preciso ser? Talvez possa ser ambos, alternando e ou conjugando, de acordo com as circunstâncias...
  • De que maneira? Elefante, para as demandas da mente – olhar para fora, estar atento aos comandos externos – com a consciência de que, muitas vezes, é preciso “trocar a paisagem”, para se ter liberdade de fazer outra coisa... Borboleta, para as demandas do corpo – olhar por dentro é simplesmente sentir-se – cair na real, viver o presente, tornar-se capaz de abrir mão do sonho pensado (não do sonhado, evidentemente...). O que vem pode ser bom, mas se houver sonho, nada será bom, porque nada é sonho...

O querer vem da mente, a necessidade vem do corpo. Não posso confundir obrigação de ser, com sentimento de ser. Em caso de dúvida, contrato um tradutor intérprete, para traduzir e ou interpretar a linguagem do meu corpo...

Descubro, finalmente, que o fruto do conhecimento é sempre o mais saboroso e precisa ser partilhado! É por esse motivo que estou aqui.

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