A escritora nascida na Somália e naturalizada holandesa estava morando nos EUA com proteção paga pelo governo holandês, ao custo de dois milhões de euros por ano. Há poucos meses o governo cortou a verba forçando-a a voltar para a Europa.
Ayaan Hirsi Ali passou a receber ameaças de morte depois que ela escreveu o roteiro do filme "Submissão", que denunciava os maus tratos a que mulheres muçulmanas são submetidas. Seu amigo e diretor do filme, o cineasta Theo van Gogh, foi assassinado em 2004 pela mesma razão.
Aos cinco anos de idade ela sofreu a terrível mutilação genital que é comum em países muçulmanos e que se destina a impedir que a mulher possa ter prazer numa relação sexual. Sem isso - justificou sua avó - ela nunca vai conseguir um marido.
Em 1992, aos 22 anos de idade, Ayaan se rebelou. Fugindo de um casamento forçado pela família e que a obrigaria a ir viver no Canadá com um estranho, ela conseguiu mudar o rumo de sua vida: em vez de pegar um avião para o Canadá, pegou um trem para a Holanda.
Demonstrando grande vontade de subir na vida, a jovem aprendeu holandês, ingressou em uma faculdade e concluiu um mestrado.
Em 2004, Ayaan convenceu o conhecido cineasta Theo van Gogh a colaborar com ela em um curta-metragem chamado Submission que denunciava a submissão e maus-tratos a que as mulheres muçulmanas estão submetidas, citando versos do Corão que justificam ou até incentivam esse tratamento.
Um fanático marroquino assassinou van Gogh na rua, a tiros e facadas, e deixou uma longa carta endereçada a Ayaan ameaçando-a.
Desde então ela anda cercada de guarda-costas, em carros e casas blindadas. Ela chegou a obter a nacionalidade holandesa e se eleger deputada, mas renunciou ao mandato quando veio a público que ela usara dados falsos, inclusive o nome, para obter asilo quando chegou ao país.
Hoje Ayaan está morando em Nova Iorque dando aulas em uma faculdade.
Essa trajetória dos desertos da África à elite política e intelectual do mundo desenvolvido é contada em seus detalhes num inglês rico e elegante, com aparente franqueza e sem medo de contar verdades desagradáveis ou perigosas.
O livro foi lançado em Nova Iorque em janeiro de 2007 e em uma semana esgotou-se na Amazon, tendo ali chegado ao sétimo lugar em vendas.
Deve sair aqui pela Companhia das Letras. Esperemos que arranjem um tradutor à altura deste belo texto.
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