agosto 03, 2009

Esperar: E o que nos resta fazer?


Esta imagem de Flavia foi trabalhado por Isabel Filipe do blog Art & Design de Portugal.
Copiei na integra do blog "Flavia, Vivendo em Coma ..."

Leila Jalul
Cronista acreana

As mães que o digam o quanto vale e pesa uma barriga até que chegue o grande dia da rebentação. No ontem, sem o auxílio luxuoso da tecnologia, além da barriga, o peso da espera para a utilização dos tons rosados e azuis dos enxovais. Seria Maria? Seria João? Tudo era mistério até que se ouvisse o brado forte do chorão ante o impacto com o mundo exterior. Uma palmada no bumbum e... buá!!!

Agora é diferente. Tudo se planeja e organiza. Até se escolhe os conselhos zodiacais para a marcação da data da concepção. Tudo vale a pena quando o assunto é vida. A maior espera é compensada, principalmente se não houver um atrapalho por caso fortuito ou força maior. Vida que chega, apaga o sacrifício da espera e os desconfortos do esperar.

Difícil é aguardar o que ficou de chegar e não se pode prever quando. Angustiante é ficar na dependência de terceiros para a solução de questões fundamentais para que se continue a vida ou se alivie as dores do viver. É de causar revolta quando se constata a lentidão da justiça, principalmente quando se trata de reconhecer direitos dos cidadãos comuns.

Mais revoltante, ainda mais, é ver sentenças judiciais sendo descumpridas, numa afronta ao poder constituído. Vivemos num país que precisa de heróis, que não reconhece o direito adquirido e nem respeita os atos jurídicos perfeitos e as sentenças transitadas em julgado. Uma lástima!

Aposentados esperam a morte sem que recebam o que lhes foi usurpado quando ainda produtivos. Estão aí os benditos precatórios se arrastando por anos a perder de vista.

Os noticiários mostram o descaso e a inépcia para com aqueles que ajudaram a construir o país.

O Poder Judiciário cala-se. Recorrer a quem?

Não penso num texto com citações. Não. Dispo-me de qualquer titulação.

Apenas reflito a barafunda do sistema brasileiro, com tantos recursos, com tantos renomados, com tantos luxuosos escritórios, com tanta roubalheira, onde se encostam os que não podem pagar os convites da festança?

Pode um cristão de classe média baixa pagar pelos desagravos e agravos, principalmente quando da sentença pede-se a continuidade de apenas poder sobreviver?

Agora, quando escrevo, não penso apenas no caso de Flávia.

Neste, já houve sentença condenatória, se não de todos, sacrificando, pelo menos o menor dos culpados: o condomínio, principalmente se o sistema instalado já veio no pacote da Jacuzzi.

Salvou-se a mãe, pelos tribunais paulistas julgada co-responsável no acidente, como se tivesse praticado abandono de incapaz. A menina brincava numa piscina rasa, aparentemente inofensiva, na companhia do irmão e de mais dois adolescentes e, não fosse o ralo inapropriado, estaria ilesa.

Eximiu-se a responsabilidade do maior dos responsáveis. E assim acontece em muitos outros episódios e em situações onde quem pode pagar mais, pode tudo. De pronto pode-se constatar: ou o esperneador contenta-se com a sentença, ou vai esperar por mais vinte anos para que se faça valer o que muitos pensam que deveria.

Para que servem os agravos?
Para que serve o dinheiro?
Para que servem os escritórios de luxo dos renomados?
Num apanhado de fatos recentes, o moço negro, dentista, morto pela polícia paulista, sem medo de errar, não teve o mesmo tratamento dado às celebridades, tipo artistas em evidência na mídia ou tipo velhos conhecidos políticos com seus atos secretos.
O tratamento não é o mesmo. Nem no tocante ao tempo do processo, muito menos, quando é o caso, no da indenização. Parece que todos se rendem ao mais forte, aos poderosos e sem se lixarem para o senso crítico dos que de perto acompanham os descalabros.
Agora, quando escrevo, não penso apenas no caso de Flavia, mas não há como não ver nesta menina um exemplo de como é falha a nossa justiça.
O que desejamos, - porque é nosso direito - é que a justiça não faça diferença entre o negro e o branco, entre o pobre e o rico, entre o anônimo e a celebridade.
Desejamos, porque é nosso direito, que a justiça seja célere e que se faça não em parte, como ocorreu no caso de Flavia, mas que a justiça se faça sempre por completo.

Leila, MUITO OBRIGADA por sua colaboração para o blog de Flavia.
E como você bem diz:“Angustiante é ficar na dependência de terceiros para a solução de questões fundamentais para que se continue a vida ou se alivie as dores do viver”.
Sim, Leila, é angustiante.

Até o próximo post.
Flavia, Vivendo em Coma ...

Fazer tchbum

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