Do pó viemos. Suco viraremos?
Desde que se entendem por gente, os seres humanos ou enterraram ou queimam os seus mortos. Mas agora surge uma nova opção - dissolver os corpos em uma solução e despejar o resíduo que sobrou, um líquido marrom e adocicado, no esgoto.
O processo é chamado de hidrólise alcalina e foi desenvolvido 16 anos atrás para o descarte de carcaças de animais.
Ele utiliza uma solução estéril, aquecida a 170°C e submetida a uma pressão de 60 libras por polegada quadrada, para desmanchar o corpo em cilindros de aço similares a fornos de pressão.
Nenhuma agência funerária no mundo, segundo os fornecedores do equipamento, oferece esse tipo de serviço. Apenas dois centros médicos dos Estados Unidos o utilizam com cadáveres doados para pesquisas.Mas, devido às vantagens ambientais, algumas indústrias funerárias acreditam que um dia a tecnologia poderia se rivalizar com o enterro e a cremação.
- Não é comum termos uma tecnologia realmente inovadora no nosso ramo.
Talvez tenhamos encontrado uma - anunciou recentemente o serviço funerário Insider, dos EUA.Convencer as pessoas a aceitarem algo, à primeira vista, tão horripilante, será o grande desafio.
A legislação que tentou tornar a hidrólise alcalina disponível ao público do Estado de Nova York foi estigmatizada como a "Lei Hannibal Lecter", referência ao personagem canibal dos filmes O Silêncio dos Inocentes e Hannibal.
Mas o procedimento é legal em alguns Estados americanos, como Minnesota e New Hampshire, onde uma funerária da cidade de Manchester planeja oferecer um serviço deste tipo, embora ainda dependa de licença das autoridades e enfrente forte resistência de advogados (que querem anular a lei) e, claro, religiosos.
- Achamos que ter o corpo descartado no esgoto é indigno para o ser humano - diz Patrick McGee, porta-voz da diocese católica de cidade de Manchester.
Nem todos pensam assim. A deputada Barbara French diz que, por ela, escolheria a hidrólise alcalina.- Com a aproximação da minha hora, tenho pensado sobre a cremação, e a considero, por um lado, uma boa solução, mas, por outro, um problema ambiental - explica a parlamentar de 81 anos.
Além do líquido, o processo deixa resíduos de ossos secos, semelhantes em aparência e volume aos restos de uma cremação. Esses resíduos podem ser entregues à família em uma urna ou enterrados em um cemitério.
O líquido de cor café resultante tem a consistência do óleo de motor e um forte cheiro de amônia. Mas, segundo os fabricantes do equipamento, é estéril e pode, na maioria dos casos, ser descartado com segurança no sistema de esgoto.
A hidrólise alcalina elimina a necessidade de reservar grandes espaços para as sepulturas nos cemitérios.
O processo também não emite dióxido de carbono, como a cremação, nem libera o mercúrio que eventualmente possa estar contido nas obturações dentárias.
A Universidade da Flórida em Gainesville e a Clínica Mayo utilizam a hidrólise alcalina para se desfazer de cadáveres usados em pesquisas desde meados dos anos 90 e de 2005, respectivamente.
Brad Crain, presidente da BioSafe Engineering, empresa que fabrica os cilindros de aço, estima que existem de 40 a 50 equipamentos sendo usados nos EUA para destruir restos humanos, carcaças de animais ou ambos.
Os usuários incluem escolas de veterinária, universidades, laboratórios farmacêuticos e agências do governo.
Na Clínica Mayo, na Universidade da Flórida e em todos os demais locais que utilizam a hidrólise alcalina, o resíduo líquido resultante vai para o esgoto.
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